Singular Aston Martin – a última das encomendas de Wacky Arnolt – esconde uma longa história, que promete custar mais de um milhão de dólares.
Um Aston Martin DB2/4 com carroçaria Bertone não é muito comum, Menos ainda o modelo que de aqui falamos. Um exemplar que é único e que resulta do sonho do norte-americano Stanley H. “Wacky” Arnolt de construir um desportivo exclusivo.
Para além de ser único e de uma beleza que, apesar de sempre subjectiva, não deixa ninguém indiferente, este automóvel “conta” tantas histórias que torna o seu valor muito elevado.
Assim o pensa, pelo menos, a leiloeira que amanhã o leva à venda.
Na verdade, a RM/Sotheby’s realiza amanhã o seu já tradicional de Nova Iorque, anualmente levado a cabo nas instalações da leiloeira em Manhattan, no âmbito da denominada “Luxury Week”. E, por entre modelos relativamente recentes da Porsche, Ferrari, Bugatti e Lamborghini (apenas 17 automóveis em catálogo), lá surge o singular DB2/4 Berlinetta Bertone.
Depois de ter feito fortuna, durante a II Guerra Mundial, fabricando motores para pequenos barcos, Arnolt decidiu virar-se para os automóveis.
Tal como Hoffman em Nova Iorque, Arnolt abriu um stand em Chicago, especializado em automóveis de origem europeia. Porém, ao contrário de Max Hoffman, não se virou para os construtores alemães ou italianos, mas para os britânicos.
O seu primeiro grande sonho concretizado foi o MG-Arnolt, que em breve passou a denominar de Arnolt-MG, vindo a ter 103 unidades fabricadas (67 coupés e 36 descapotáveis), sempre com a colaboração de Bertone.
Querendo ir mais longe, em 1954, Wacky Arnolt propôs a Bertone a criação de um desportivo (que, no seio do atelier italiano, veio a ser desenhado por Franco Scaglione) que tivesse por base o Aston Martin DB 2/4.
O construtor britânico entregou a Arnolt seis chassis do DB 2/4, que vieram a ser acabados como spiders ou como descapotáveis, com um detalhe que desagradou aos ingleses: Arnolt teve a audácia de decorar os Spider com o seu próprio emblema e vendeu-os como produtos americanos.
Os britânicos decidiram pôr fim à parceria, mas, no Verão de 1954, entregaram mais dois DB 2/4. Um deles, com forma de descapotável, a Bertone carroçou e passou a ser de uso pessoal de Arnolt, que deu ao modelo o nome de Indiana. O outro – o que amanhã vai a leilão – foi acabado como coupé e… não foi enviado para os Estados Unidos.
Sabe-se que o automóvel foi encomendado a 8 de Agosto de 1954 e foi dado como pronto a 7 de Janeiro de 1955.
Pintado em branco com o interior em castanho claro, esteve exposto, no stand de Arnolt, no Salão de Turin de 1957, planeando então o industrial norte-americano vir a fabricar 100 unidades.
No ano seguinte, novamente em Turin, foi mostrado como Bertone, já pintado no azul que agora recuperou.
Entretanto, o plano do Arnolt-Aston nunca avançou, uma vez que, na Aston Martin, Arnolt passou a ser visto mais como um concorrente do que como um cliente. Diz-se que houve medo de que o Berlinetta Bertone pudesse representar uma ameaça para o planeado DB4…
Arnolt deixou de pensar nos Aston — virou-se para a Bristol – e o Berlinetta Bertone teve uma história pouco conhecida.
Sabe-se que em 1976 foi comprado por um norte-americano, que o mandou restaurar, como se fosse um… Ferrari.
Foi então pintado de vermelho, alterado em alguns detalhes – mudaram-lhe os farolins traseiros, a parte central do pára-choques dianteiro, etc., etc. – e foi assim que apareceu, há quatro anos, num leilão da Gooding & Company.
Foi então vendido por 556.000 dólares, a um outro coleccionador norte-americano, que o devolveu à cor e à forma com apareceu no Salão de Turin de 1958.
Segundo a RM/Sotheby’s deverá ser vendido por um preço entre os 1.200.000 e os 1.600.00.
Uma longa história, hoje com muitos zeros…
Actulaização: realizado o leilão, o DB2/4 Berlinetta Bertone foi vendido por 1.105.000 dólares.
Fotos: RM/Sotheby’s
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