Um dos casos já está a ser julgado no Tribunal de Estugarda. Outro teve desenvolvimentos… na Malásia.
Ainda se lembra da notícia (aqui publicada no dia 1 de Junho passado) sobre a suspeita de fraude na venda, na Alemanha, de um Mercedes-Benz 300 SL? O caso avança mais lentamente que uma novela televisiva, mas tem novos capítulos. E a suspeita de mais crimes associados…
Segundo a Imprensa alemã, os casos acabam sempre por envolver a prestigiada casa Kienle Automobiltechnik. A “bomba” que rebentou a 31 de Maio diz respeito a um 300 SL Roadster, de 1961, comprado em 2022, na Suíça, por Ralph Grieser, também ele vendedor de carros Clássicos, e que veio denunciar que o seu SL é verdadeiro e que o que foi comercializado pela Kienle Automobiltechnik, em Outubro de 2019, tem os números de chassis adulterados.
Descobrindo quem terá comprado o automóvel vendido pela Kienle, Ralph Grieser deslocou-se em Agosto até à Malásia, para onde o 300 SL foi vendido por 1,3 milhões de euros.
E não foi sozinho. Fez-se acompanhar do deputado alemão Carsten Müller (que é o presidente do Círculo Parlamentar para os Bens Culturais Automóveis, o grupo dos deputados alemães, de todos os partidos, que são amantes de Clássicos) e do perito Frank Steinacker.
As conclusões do perito, a confirmarem-se, são arrasadoras: o SL vermelho de Grieser é comprovadamente verdadeiro. O amarelo, que agora se encontra na Malásia… também, mas com os números adulterados.
Segundo as últimas informações reveladas, trata-se de um automóvel que foi roubado em Frankfurt em 1983.
A confirmar-se, não será o único caso em que, para além da falsificação dos números, falamos de automóveis que foram roubados.
Na verdade, no Tribunal de Estugarda está a decorrer o julgamento de um outro processo, desencadeado pelo belga Jozef Dockx, que acusa a Kienle de lhe ter vendido, em 2007, um 300 SL Gullwing, cujos números de chassis e motor são iguais aos de um outro que circula em Nova Iorque.
Segundo as alegações de Dockx, o SL que lhe foi vendido é na realidade um automóvel que foi roubado em Aachen em Janeiro de 1990.
Falando apenas através do seu advogado, a Kienle Automobiltechnik, em declarações publicadas nomeadamente pela “Auto Motor und Sport” e pelo “KFZ-Betrieb”, afirma que “as acusações de que a Kienle Automobiltechnik GmbH construiu veículos ou partes deles é simplesmente uma mentira e comprovadamente falsa”.
Klaus Kienle, fundador e proprietário da Kienle Automobiltechnik foi entretanto arrolado como testemunha num outro caso, que opõe dois proprietários de Mercedes-Benz 300 SL Roadster, que têm o mesmo número de chassis, facto que foi descoberto nas oficinas da Kienle, quando o segundo carro por ali passou 20 anos depois do primeiro.
Segundo os proprietários, o início da história do respectivo automóvel é semelhante: fabricado em 1957, seguiu da Alemanha para Venezuela, país do proprietário original.
A partir daqui a história diverge: o SL do demandante mudou de cor, ainda na Venezuela, de prata para vermelho, e foi vendido para França em 1974. Regressou à Alemanha 40 anos depois, quando o proprietário francês o vendeu.
Já o SL do réu, seguiu da Venezuela para a Tailândia, onde se encontrava (pintado em prata) em 1974, ano em que foi comprado, em Bangkok, a um cidadão chinês.
Apenas na viragem do milénio é que foi enviado para a Alemanha, para um restauro na Kienle.
Quase duas décadas depois, em Julho de 2019, ali deu entrada o SL do agora demandante, que prontamente foi alertado pela Kienle, através do telefone: “O seu automóvel é uma fraude”, ouviu para grande surpresa.
Foto: capa do calendário da Kienle
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