Faz hoje 50 anos a edição marcada pela morte de Jo Bonnier, pela presença de Nicha Cabral e pela primeira vitória da Matra.
16:00 do dia 10 de Junho de 1972. Faz hoje 50 anos. Arranca a 40ª edição das 24 Horas de Le Mans. Como todas as outras, uma edição especial (até para Portugal). Mas, como se saberá depois, mais especial do que as outras…
Pela entrada em vigor dos novos regulamentos, afastados os “monstros” de cinco litros – deixando a Porsche fora da corrida ao triunfo, pois o 908 estava longe de poder dar continuidade ao 917, vencedor em 1970 e 1971 – a edição de 1972 anunciava-se como um confronto entre a Ferrari e a Matra.
Era isso que se pensava no início do ano, mas em Junho tudo seria diferente.
Dominadora, durante todo o ano, do Campeonato do Mundo de Sport-Protótipos, a Ferrari compareceu, em Março, nos testes para Le Mans. Foi a única vez que os Ferrari e os Matra partilharam a pista (ao contrário dos italianos, os franceses abstiveram-se de competir no “Mundial” antes das 24 Horas).
Os 312 PB, com Jacky Ickx e Arturo Merzario ao volante, confirmaram ser os mais rápidos, mas, depois de constatado esse facto, os dois carros regressaram a Itália, sem alinhar na prova de quatro horas (aliás, a Matra, com François Cevert como piloto, fez o mesmo).
A corrida de teste realizou-se e terminou com o triunfo do Lola T280, da dupla Jo Bonnier-Hughes de Fierlandt, o que fez elevar as expectativas quanto ao papel que os Lola, com o apoio dos queijos suíços, poderiam vir a ter em Junho.
Nos meses que se seguiram, porém, muito se alterou: a Alfa Romeo anunciou que a Autodelta iria marcar presença com quatro Tipo 33TT3, a Ferrari, a uma semana da prova, anunciou que nenhum dos quatro 312 PB alinharia em Le Mans – eventualmente, temendo que os motores não aguentariam uma prova tão longa – e a Lola perfilou-se como uma eventual “alternativa” à Matra.
Jo Bonnier reuniu duas equipas: uma, formada por ele próprio, por Gijs van Lennep (vencedor em 1971) e por Gérard Larrousse (que venceria no ano seguinte). A outra com o belga Hughes de Fierlandt, o espanhol Jorge de Bagration e o português Mário de Araújo Cabral.
A presença de Nicha Cabral despertou, ao tempo, bastante entusiasmo em Portugal. Não sendo o primeiro português a propor-se correr as 24 horas – o primeiro foi Afonso de Burnay, em 1954, e o segundo Carlos Manuel Reis, em 1960 – Cabral esteve inscrito em 1969 e em 1970, mas de ambas as vezes o projecto não se concretizou.
Diferente era o cenário de 1972, embora, ainda antes da corrida, nem tudo tenha corrido bem.
Segundo o piloto, falecido em 2020, “ficou definido que o piloto mais rápido é que faria a partida. Com o resultado dos treinos a não correr de feição a Bonnier, sendo Larrousse mais rápido no carro nº 8, o patrão decidiu alterar a estratégia e ser ele a partir. No meu carro, fui eu o mais rápido, mas o Bonnier também decidiu alterar o piloto para a partida”, lembrou mais tarde o piloto, que acabou por não guiar em prova, uma vez que o nº 7 desistiu antes de chegar o seu turno de condução.
Com três Matra a partirem na frente – seguidos do Alfa Romeo de Rolf Stommelen e do Lola de Bonnier – a corrida acabou por ser totalmente dominada pelos protótipos franceses, terminando o MS670 com o nº 15 (esse mesmo que, no ano passado, foi vendido por oito milhões de dólares) em primeiro, com 11 voltas de avanço para o Matra nº 14.
Os vencedores foram Henri Pescarolo e Graham Hill, que assim se tornou no único piloto a deter a chamada Tripla Coroa, por ter sido campeão do Mundo de Fórmula 1, ter ganho as 500 Milhas de Indianapolis e ter triunfado em Le Mans.
Só muito mais tarde é que se soube que Hill festejou o triunfo sem que lhe tenham dito o que se tinha passado com o seu amigo sueco Jo Bonnier, com o qual fez equipa em 16 corridas.
Eram 08:25, já do dia 11 de Junho, quando Bonnier (bastante atrasado) voltava a ter o Lola a trabalhar em pleno.
Tentava recuperar quando, entre Mulsanne e Indianapolis, com a floresta de ambos os lados da pista, o Lola começou a aproximar-se da traseira do Ferrari GTB4 da Escuderia Filipinetti, conduzido por Florian Vetsch.
Sem que o Ferrari tenha mudado de trajectória, Bonnier tentou a ultrapassagem antes da curva, mas a manobra correu mal. Embatendo no Ferrari, o Lola levantou voo e só parou mais de cem metros depois – Vic Elford diria mais tarde que viu o Lola no ar, "girando como um helicóptero" –, ao embater contra as árvores.
Aos 42 anos, Jo Bonnier, que ao tempo, apesar de afastado do Circo da F. 1, era o presidente da Associação de Pilotos de Grande Prémio, e que era um defensor da segurança nas corridas, encontrava a sua morte na sua 15ª participação nas 24 Horas de Le Mans, ele que entre 1957 e 1972 só não alinhou na edição de 1967.
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