Partiu o “pai” do Team BIP, uma das figuras mais marcantes do Automobilismo nacional.
Carlos Alberto Borges Gaspar, conhecido no mundo do automobilismo apenas como Carlos Gaspar, foi hoje a enterrar na cidade do Porto, onde nasceu e faleceu (30 de Junho de 1942-6 de Janeiro de 2021). “Alma” do Team BIP, do qual foi piloto e team manager, Carlos Gaspar foi muito mais do que isso. Foi das personalidades mais marcantes da História do Automobilismo nacional.
Nascido numa família com estreitas ligações ao mundo automóvel – o seu pai, João Gaspar, foi o primeiro representante para Portugal da Ferrari – Carlos Gaspar seguiu nos anos 60 para a Grã-Bretanha, onde se licenciou em Engenharia Mecânica.
Foi também no Reino Unido que efectuou as primeiras corridas, começando em 1965 a competir ao volante de um Lotus Elan, com o qual alinhou em Portugal no Circuito de Cascais (o seu primeiro triunfo, a 25 de Julho), Montes Claros e Vila do Conde.
Dividindo-se por várias categorias – da Formula 3 aos Turismos, passando pelos Sports, efectuando várias provas em dupla com Sir Paul Vestey, ao volante de um Ferrari 275 GTB – Carlos Gaspar começou a ser presença assídua nas pistas portuguesas a partir de 1966, ano em que, ao volante de um Alfa Romeo (marca que a família também representava na cidade do Porto), chegou ao primeiro (Velocidade - Turismo) dos três títulos nacionais que viria a conquistar.
Campeão nacional de Velocidade - Grande Turismo e Desporto em 1968, ao volante de um Ford GT40, depois de uma pausa na carreira, Carlos Gaspar “reapareceu” em 1972, ano do lançamento do Team BIP, que se apresentou inicialmente com um Lola T280, que levou ao triunfo na corrida de inauguração do Autódromo do Estoril.
No ano seguinte, Carlos Gaspar transformou o Team BIP numa equipa internacional, formada exclusivamente por pilotos nacionais, utilizando os Lola T292, da categoria de dois litros.
Desse ano a melhor memória que ficou foi a épica vitória na principal corrida do Circuito de Vila Real (com um recorde de volta que nunca mais foi batido), terminando o ano com o seu terceiro título nacional: Velocidade - Grande Turismo e Desporto.
As alterações políticas ocorridas no país em 1974 colocaram um travão ao Team BIP e Carlos Gaspar acabou por não voltar a competir.
Longe do que se possa imaginar isso não representou o seu afastamento do Automobilismo e, discretamente, foi sempre uma figura activa em vários âmbitos da modalidade, desde a reestruturação federativa ao apoio a jovens pilotos que pretendiam efectuar uma carreira internacional.
Durante anos, emprestou os seus vastos conhecimentos aos muitos leitores das crónicas que assinou em vários órgãos de comunicação e foi alvo de várias homenagens, nomeadamente em locais onde brilhou como piloto (Vila do Conde e Vila Real) e também em pistas que ainda não existiam quando corria (Braga).
Piloto perfeccionista – muitos escreveram nas últimas horas que terá sido o primeiro português a encarar com profissionalismo a sua condição de piloto –, gentleman no trato, de uma simplicidade e educação raras, autor de raros méritos na escrita (polémica, mas sempre devidamente fundamentada), Carlos Gaspar deixou uma marca única na História do Automobilismo nacional.
NDR – Há uma regra neste espaço noticioso, de não nos desviarmos para o campo opinativo. Mas, toda a regra tem excepção. É esse agora o caso:
Enquanto cronista, Carlos Gaspar foi meu colaborador, há cerca de três décadas. Tal como acontecera com o piloto, foi o mais perfeccionista dos autores que conheci e talvez o que melhor dominava a Língua Portuguesa.
Desde essa altura e até à última vez que nos encontrámos chama-me de “Chefe”, o que me deixava desconfortável, pois se alguém merecia esse título era ele.
Brindou-me com excelentes textos e com uma amizade que será eterna.
Até sempre Chefe.
Fernando DaSilva
Fotos: Arquivo Auto Vintage e Manuel Dinis
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